O rei dos muros da cidade
O grafiteiro Alex Vallauri é homenageado num livro que conta como ele alegrou São Paulo na ditadura
14 de junho de 2011 | 0h 00
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Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S.Paulo
Agora é fácil, mas, nos anos 1970, em plena vigência da ditadura militar, quando ficar na rua à noite significava problema certo, um artista etíope - ou subversivo, dava na mesma na época - saía pelas avenidas da metrópole munido de latas de spray e muita coragem. Alex Vallauri era o seu nome, um alegre e miúdo pintor que ficou conhecido por duas logomarcas nas paredes de São Paulo, uma bota preta e uma mulher com um frango assado na bandeja que, de tão famosa, foi parar numa sala especial da 18.º Bienal Internacional de São Paulo, em 1985.
DivulgaçãoA famosa mulher com um frango assado na bandeja
A comissão da mostra entendeu que a arte de Vallauri era, então, a ilustração perfeita do binômio arte e vida, a tradução da experiência existencial de um artista fora do mercado que entrava no templo de arte erudita para contaminá-lo com o popular, grafitando no espaço interno do pavilhão o espírito de uma época marcada pela repressão e a censura. É esse artista que o crítico e professor João J. Spinelli mostra em Alex Vallauri - Graffitti, livro publicado pela Editora Bei (R$ 120).
Criado em plena ebulição do movimento pop, Vallauri chegou ao Brasil em 1964, justamente no ano do golpe militar. Tinha 15 anos e desembarcou em Santos, então uma cidade com certo movimento cultural e político, onde fixou imagens de estivadores, marinheiros e prostitutas do cais. Aos 21 anos, fez sua primeira individual no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em que já era possível identificar sua inclinação para a iconografia popular. Não tinha os mesmos objetivos de artistas pop americanos como Warhol, mas o certo é que suas obras deixaram o suporte das ruas (muros e paredes) e foram reproduzidas por indústrias de confecção como a Levi"s e Fiorucci, como lembra Spinelli no prólogo. E Vallauri, afinal, não passou incógnito pelo movimento. Ele é citado no livro Art Today, do crítico e curador inglês Edward Lucie-Smith, menção que que despertou o interessse dos museus americanos.
A partir de um molde recortado em papelão, as figuras em spray de Vallauri (a sensual e algo vulgar bota negra feminina, piões e acrobatas inspirados em Seurat) viajaram das paredes de São Paulo para o metrô nova-iorquino. Comunicativo e doce, ele fez amizade com outros grafiteiros que ficariam famosos, como Jean-Michel Basquiat. Vallauri ficou surpreso com a aceitação do grafite em Nova York pelos galeristas, que incentivavam a produção dos artistas de rua. Ao voltar, encontrou no galerista Marcantonio Vilaça seu mecenas. Após a morte de Vallauri, ele adquiriu o espólio do artista, segundo Spinelli, que destaca ainda o papel do Estado, "que sempre noticiou com destaque a sua forma espontânea, livre de formulações a amarras estéticas academizadas pela arte moderna".
Vallauri justificava essa vontade de se livrar das escolas formais como uma maneira de assumir a filiação romântica e ilusionista do kitsch - e seu frango assado sobre uma coluna grega sintetiza esse propósito. Sua influência sobre seus contemporâneos pode ser resumida na relação com o parceiro artístico Mauricio Villaça, também falecido, que, pintor abstrato expressionista, desenvolveu com ele projetos de grafites e livros cheios de graça. Vallauri morreu no dia 27 de março de 1987, aos 37 anos.
Tópicos: Grafite, Alex Vallauri , Cultura, Versão impressa
quarta-feira, 15 de junho de 2011
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Mara Borba e a Rainha
Clique no endereço do youtube do título da postagem e veja a Mara Borba interpretando a Rainha do Frango Assado.
Pessoalmente gosto mais da interpretação da Claudia Raia. No entanto a direção desta é bem melhor.
Pessoalmente gosto mais da interpretação da Claudia Raia. No entanto a direção desta é bem melhor.
sábado, 21 de maio de 2011
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
ESTADOS UNIDOS
Estados Unidos, Nova Iorque, East Village era um dos destinos previsíveis da grande maioria dos artistas jovens da década de 80. Ali se desenvolvia uma nova e pujante cultura nascida de criadores de todas as nacionalidades, não alinhados com os cânones estéticos do mercado. A febre do grafite tinha explodido nos guetos de Nova York, nos primeiros anos da década de 70 e dali invadido muros, metrôs, ônibus e caminhões.
...os grafiteiros foram combatidos pela polícia, e alguns de seus autores acabaram na cadeia, enquanto outros eram conduzidos às mais importantes galerias, bienais e museus de arte, não só dos Estados Unidos como do mundo todo. [1]
Mas no decorrer de uma década, tudo tinha mudado. A devastação produzida pela Aids nas comunidades do East Village e as dificuldades de subsistência jogaram sonhos por terra.
Todo o mundo pensa que os anos 80 foram muito legais, mas havia uma grande nuvem escura pairando sobre aquela época. [2]
A fama também era fugaz em Nova Iorque, o próprio Andy Warhol, tão respeitado por Alex, o papa dos movimentos jovens das décadas de 60 e 70 era tratado com certa condescendência pela mídia. Passou de ícone venerado a uma figura obsoleta, apenas tolerada.
É esse o clima que Alex encontrará nos Estados Unidos em 1982.
[1] Célia M. Antonacci Ramos. Grafite, pichação e companhia, p. 14.
[2] Entrevista do fotógrafo David La Chapelle para Alix Sharkey, Folha de São Paulo, Caderno Mais, 19 de fevereiro de 2006, p. 10.
Estados Unidos, Nova Iorque, East Village era um dos destinos previsíveis da grande maioria dos artistas jovens da década de 80. Ali se desenvolvia uma nova e pujante cultura nascida de criadores de todas as nacionalidades, não alinhados com os cânones estéticos do mercado. A febre do grafite tinha explodido nos guetos de Nova York, nos primeiros anos da década de 70 e dali invadido muros, metrôs, ônibus e caminhões.
...os grafiteiros foram combatidos pela polícia, e alguns de seus autores acabaram na cadeia, enquanto outros eram conduzidos às mais importantes galerias, bienais e museus de arte, não só dos Estados Unidos como do mundo todo. [1]
Mas no decorrer de uma década, tudo tinha mudado. A devastação produzida pela Aids nas comunidades do East Village e as dificuldades de subsistência jogaram sonhos por terra.
Todo o mundo pensa que os anos 80 foram muito legais, mas havia uma grande nuvem escura pairando sobre aquela época. [2]
A fama também era fugaz em Nova Iorque, o próprio Andy Warhol, tão respeitado por Alex, o papa dos movimentos jovens das décadas de 60 e 70 era tratado com certa condescendência pela mídia. Passou de ícone venerado a uma figura obsoleta, apenas tolerada.
É esse o clima que Alex encontrará nos Estados Unidos em 1982.
[1] Célia M. Antonacci Ramos. Grafite, pichação e companhia, p. 14.
[2] Entrevista do fotógrafo David La Chapelle para Alix Sharkey, Folha de São Paulo, Caderno Mais, 19 de fevereiro de 2006, p. 10.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Homenagem a Alex Vallauri
Benvindos ao blog Artevaral que volta para homenagear o artista plástico, desenhista, gravador e grafiteiro Alex Vallauri, um ser humano fora de série.
Os textos e imagens foram retirados do livro "Alex Vallauri, da gravura ao grafite - Biografia", de autoria de Beatriz Rota-Rossi.
Única biografia autorizada pela família do artista.
Os textos e imagens foram retirados do livro "Alex Vallauri, da gravura ao grafite - Biografia", de autoria de Beatriz Rota-Rossi.
Única biografia autorizada pela família do artista.
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